Repensando o Handebol na escola.

Pensando nas práticas esportivas aplicadas em escolas, iniciamos um processo de avaliação dos processos pedagógicos e dos treinamentos realizados em escolas com crianças, para avaliar se as propostas respeitam o desenvolvimento e condições físicas das crianças e adolescentes. Neste primeiro momento escolhemos a modalidade do Handebol e para isso nos baseamos no estudo feito por Canciglieri, Melari e Pinheiro, onde os mesmos produziram o artigo “Handebol: Processo pedagógico e especialização precoce”. Artigo este pertinente a uma série de avaliações que serão feitas em relação as modalidades esportivas nas escolas.

O estudo feito pelos autores inicia nos trazendo uma reflexão, onde nos diz que o Handebol é nos faz utilizar de nossas três fases atléticas naturais, ou seja, correr, saltar e arremessar. Pensando através desta frase já é possível perceber como pode se tornar fácil trabalhar o Handebol em escolas, pelo fato de essas três “habilidades” naturais, desenvolvemos logo cedo em nossas vidas. Mas a questão levantada é os métodos utilizados em treinamentos de handebol com crianças e adolescentes, onde o foco não é em seu desenvolvimento motor, cognitivo e social, mas sim um objetivo de alto rendimento desde muito cedo. Com isso os autores nos trazem resultados que mostram, que quando o Handebol aplicado de maneira equivocada com crianças e adolescentes pode trazer malefícios para a vida toda.

O estudo foi realizado em uma escola privada na cidade Araras, na modalidade de Handebol, com crianças em idades entre 07 e 18 anos de idade e com o principal questionamento se os métodos utilizados favorecem a especialização precoce e como consequência o aparecimento de lesões prematuras. Foi realizada uma pesquisa direta-descritiva para observar os pontos propostos e com um total de dez perguntas, com a exceção de ex-atletas que então era uma adicionada pergunta que seria para saber o motivo do abandono da modalidade.

Iniciando o processo de avaliação logo nas respostas das primeiras perguntas já pode ser constatado um equívoco em relação aos métodos trabalhados, pois ao serem questionados sobre a quanto tempo iniciaram os treinamentos, indivíduos que iniciaram há mais de 3 anos, iniciaram por volta dos 10 a 12 anos de idade, que como citam os autores nesta faixa etária as crianças deveriam estar enriquecendo o seu acervo motor e não realizando práticas de auto rendimento. Nas duas próximas perguntas foram questionados a quantidade de dias semanais e horas diárias de treinamento e pode-se observar que grande parte dos indivíduos com idades entre 10 e 12 anos de idade treinavam entre duas e três horas diárias numa periodicidade de 2 a 3 vezes por semana, quando sabe-se que o adequado seria não mais que uma hora diárias e no máximo 3 vezes semanais. Após foram questionados quanto as dores sentidas e os motivos os quais achavam, e grande parte reclamou de dores na região dos braços, coxas e joelhos e acreditam ser pelo excesso de treinamento. Um fator muito pertinente a ser frisado é que os alunos entrevistados citaram que os métodos de treinamento influenciavam para se tornar um treino atraente ou não, por exemplo, muitos destacavam que quando os treinamentos eram somente físicos eles se tornavam chatos, pensando nestas afirmações vale ressaltar a importância em tornar o ambiente lúdico e divertido, principalmente para as crianças.

Um dos últimos questionamentos foi se os alunos já haviam se machucado e se achavam que seria por causa do excesso de treinamento, nos que responderam sim, as lesões citadas principalmente foram em regiões de articulações, principalmente joelhos. Então através deste estudo feito pode-se concluir que a especialização precoce das crianças e adolescentes na prática do Handebol de maneira competitiva pode trazer malefícios que podem tornarem-se crônicos, os altos impactos nas articulações e o contato direto contra adversários faz com que as lesões sejam recorrentes. Agora seria equívoco dizer que o handebol não se deve ser praticado em escola, deve ser dizer que a maneira que ele será praticado deve ter uma adaptação totalmente voltada para respeitar o desenvolvimento das crianças e ainda mais auxiliar no seu desenvolvimento físico, cognitivo e social. O handebol é considerado um esporte com perfeita interação formativa educacional e esportiva, podendo ser jogado por ambos os sexos, ainda mais o handebol pode trazer benefícios em todos os aspectos necessários para um ótimo desenvolvimento da criança, porém para isso deve ser pensado o método utilizado .

Referencial:

CANCIGLIERI, Paulo Henrique; MELARI, Leila Felicio; PINHEIRO, Priscila Ubiall. Handebol – processo pedagógico e especialização precoce, Revista Mackenzie de Educação Física e esporte – 2008, 7 (3): 79-82.


“O esporte tem a capacidade de transformar pensamentos, quebrar paradigmas, educando os estudantes pelo movimento e interação social”.


Diogo Diedrich

o não, ao exercício adaptado.


“ A criança não é uma miniatura do adulto,
e sua mentalidade não é só qualitativa, 
mas também quantitativamente diferente da do adulto, 
de modo que a criança não é só menor,
mas também diferente.

Claparède, 1937.

Sabe-se que o treinamento direcionado as crianças e adolescentes não deve ser mesmo que para adultos, ainda assim presenciamos profissionais adaptando atividades físicas para as crianças através de diminuição de carga ou até mesmo de tempo, quando em relação aos direcionados a adultos. Isto não só é equivocado como pode prejudicar permanentemente a criança e adolescente submetido a estes treinamentos desapropriados. Segundo Weineck (1991), os exercícios devem ser diferentes pelo fato de crianças e adolescentes estarem em desenvolvimento contínuo, sofrendo inúmeras transformações físicas, psíquicas e sociais, tendo consequências que influenciam nas atividades corporais, bem como na capacidade de suportar cargas. O treinamento e/ou atividade física deve ser planejado considerando-se as etapas de desenvolvimento fisiológico natural do individuo, que são segundo Weineck (1991), idade pré-escolar, primeira infância escolar, primeira fase puberal, segunda fase puberal ou adolescência.

Segundo Massiote (1985), evidencia estudos realizados por Shepard e levalee, onde crianças que foram submetidas a um programa especial de educação física, com cinco sessões de uma hora, por semana, possuíam uma capacidade de trabalho superior, do que os inscritos no programa regular de quarenta minutos, uma vez por semana. O inicio deste processo evolutivo de desenvolvimento se dá, na sua grande parte dentro da escola e segundo Weineck (1991), é ineficiente nos moldes adotados nos dias atuais, onde as aulas são ministradas em no máximo duas vezes por semana. Estes são motivos claros para demonstrar a importância da Educação Física na escola e  o porque ela deve ser valorizada da mesma maneira de que outras disciplinas. Sabemos que muito do descaso que hoje a Educação Física recebe é em razão do descuidado com a qualidade das aulas que alguns professores acabam tendo. As aulas de Educação Física devem ser ministradas sempre com um intuito maior do que somente estimular a prática de esportes ou atividades físicas, dela devem possuir um caráter mais incisivo na vidadas crianças e demonstrar o porquê estas aulas são importantes, e mostrar quais os benefícios que aquela aula em questão esta proporcionando ao estudante, infelizmente ainda nos falta o apodera mento e conhecimento da base teórica para defendermos as nossas aulas de Educação Física.

A velocidade de crescimento, se dá em etapas atingindo certa estabilidade na idade pré-escolar, voltando a acelerar na puberdade, isso é fator determinante para estabelecer-se parâmetros de treinamento  com carga, pois não há equivalência com a fase adulta. Durante o exercício algumas alterações ocorrem no organismo da criança e do adolescente, estas alterações são resposta ao esforço, pois o organismo tende a adaptar-se, ocorrendo diferenças na comparação com adultos.

 Na idade pré-escolar (3-7 anos), segundo Pini e Carazzato (1983), a criança deve participar das atividades naturais como andar, saltar, correr, etc. Já na primeira infância (6/7 -10 anos), com altura e peso aumentando paralelamente, esta fase propicia para a aprendizagem de novas habilidades motoras. Na pubersência é considerada a fase da desproporcionalidade, que segundo Weineck (1991), é gerado pela testosterona ( nos meninos) e outros hormônios. Nesta fase de treinamento deve conter estímulos prazerosos, pois esta série de modificações correndo ao mesmo tempo (bio-psico-sociais), o jovem tende a desmotivar-se com facilidade.  E na adolescência se encontra o estágio mais propicio para o treinamento de técnicas específicas  das modalidades esportivas.

Existem estes parâmetros citados por Weineck (1991), porém sabemos que existem outras teorias as quais podemos nos basear, ou seja, podemos nos basear nas teorias de desenvolvimento criadas por Jean Piaget, onde de certa forma acabam se assemelhando com as de Weineck, ou podemos ir além e compreender a singularidade de cada indivíduo e analisarmos seu contexto social que sabemos a enorme influência que o meio onde o individuo esta inserida exerce sobre ela. Neste caso podemos nos capacitar através das teorias de Vygotsky onde ele compreende que o desenvolvimento da criança se dá muito em volta ao seu contexto social e que particularmente acredito ser o mais apropriado para as condições as quais as escolas no Brasil estão.  Indiferente a qual teoria utilizar para basear suas aulas, o que deve ser considerado acima de tudo é que cada criança e adolescente possui sua individualidade e o professor de educação física é o que mais deve saber perceber e trabalhar em cima desta individualidade. Cabe a nós da educação, entendermos que as aulas de educação física são de grande importância para todos os aspectos de qualidade de vida de nossos estudantes e que devemos nos empenhar em possuirmos o máximo de conhecimento para proporcionar aos estudantes uma aula em que somente agregue ao seu desenvolvimento como um todo, trabalhando sua aptidão física, mas também seu desenvolvimento cognitivo e social.

Este texto foi produzido com base no artigo publicado pela revista EFdeportes.com no ano de 2002. Artigo escrito pelo Professor Ricardo Valente.

site para conferir o artigo completo:
https://www.efdeportes.com/efd54/trein.htm

Efeitos fisiológicos

Esta postagem foi baseada no estudo e artigo realizado por Tiago Guilherme Chicoski Tolentino Braga e Maria Gisele dos Santos, nomeado de: Efeitos fisiológicos na criança e adolescente durante e após o exercício físico (2014), publicado pela revista digital EFdeportes.com no ano de 2015.

Importância da atividade física na vida das crianças.

Podemos perceber que crianças e adolescentes, tanto funcionalmente quanto estruturalmente. Não são semelhantes aos adultos. As modificações fisiológicas que ocorrem em nosso organismo ao decorrer da vida, até que se atinja o estado de maturidade podem ser tão grandes ou até maiores que adaptações provenientes de um programa de treinamento. Sabe-se que a criança possui uma capacidade anaeróbica inferior aos adultos e adolescentes e a constatação deste conceito se dá através de algumas hipóteses dadas por algumas pesquisas, por exemplo, crianças possuem um menor estoque de creatina-fosfato e glicogênio muscular, menor atividade das enzimas fosforilase, fosfofrutoquinase e lactatodesidrigenase e níveis  mais baixos de testosterona. Como consequência a isso há uma menor ação desse hormônio sobre a musculatura esquelética.

Devido a estas diferenças as crianças e adolescentes irão reagir de uma maneira diferente a estímulos ocasionados pela atividade física. Podemos destacar alguns efeitos fisiológicos ocorridos na criança e adolescente durante o exercício físico como: A capacidade aeróbica máxima parece aumentar proporcionalmente a altura e a frequência até os 17-18 anos, tendendo a diminuir a partir daí, a frequência cardíaca máxima é maior em crianças do que adultos, sendo por volta dos 10 anos às frequências mais altas, diminuindo gradativamente a partir desta idade. O treinamento para crianças e adolescentes deve estar relacionado ao interesse de cada faixa etária, respeitando a fase de desenvolvimento fisiológico.

Sabemos que o exercício ou atividade física são de grande importância para a saúde tanto de crianças, quanto para adultos, e por ser na fase da infância que estamos nos formando e é comprovado que manter nossa infância saudável e com hábitos saudáveis, faz com que possamos nos tornar adultos mais saudáveis e ativos, claro que considerando que a partir da vida adulta possamos manter os mesmos cuidados com o copo. Sendo mais específico, podemos citar como principais benefícios psicológicos para a criança como estimular a socialização, antídoto natural de vícios, maior empenho na busca de objetivos, diminuição do estresse e reforça a autoestima. Em relação aos aspectos fisiológicos, o treinamento físico ou atividade física, proporciona a melhora do condicionamento cardiovascular e aptidão física, está associada a diminuição dos níveis de lipídeos plasmáticos, índice de massa corporal, menor pressão sanguínea sistólica e diastólica e menor porcentagem de gordura corporal.

Com base na análise deste artigo pode ser mais concretizada a importância das atividades físicas para as crianças e como os autores citam, pode-se concluir que é fundamental o conhecimento dos aspectos fisiológicos das crianças e adolescentes para que seja possível a prescrição de exercícios de forma adequada para que estas possuam uma melhor qualidade de vida. Os profissionais que irão trabalhar com crianças precisam conhecer as diferenças fisiológicas delas e compreender que todas as atividades que serão direcionadas a elas devem estar totalmente relacionadas as suas limitações e mais importante que isso, precisam estar relacionadas aos aspectos fisiológicos que podem e devem ser aprimorados nesta fase importante de nossas vidas.


O esporte tem a capacidade de transformar pensamentos educando o jovem pelo prazer. (Elijarbas Rocha)